Fanfic - Beauty and the Beast (Capítulo 07 - Quando o desejo fala mais alto)

27/08/2013 23:10

 

Aristóbulo Camargo, a figura mais ilustre de toda Bole-Bole, era apaixonado por uma ex-prostituta. Esse certamente seria o pensamento de todos os cidadãos da cidade, especialmente aqueles metidos às fofocas e intrigas. Mas, para ele, a imagem da mulher que tanto desejava não conseguia sair da sua mente. Qualquer outro homem normal teria aceitado com prazer deitar-se com uma virgem. Essa era outra realidade. Aristóbulo sabia que jamais conseguiria tocar em Marcina. Amava demais Risoleta, e o seu desejo por ela crescia dentro de si cada vez mais. Ainda que tivesse a consciência de que todo homem tem suas necessidades, preferia se privar delas, pelo menos com Marcina. Jamais mesmo, conseguiria tocar na garota, nem tampouco fazer virar realidade o exemplo de casal que mostrava aos eleitores. Se acontecesse de se envolver com ela, saberia perfeitamente que a todo o momento estaria pensando em Risoleta, principalmente na hora do sexo. E mais, tinha a certeza que jamais iria amar Marcina ou qualquer outra mulher como amava Risoleta. Não iria se envolver com uma mulher que não amava, nem tampouco fazer mulher aquela ainda menina. Seu coração estava fadado a amar Risoleta, e por mais que talvez não ficassem juntos, ele levaria esse amor para sempre. Porém, o desejo crescia de uma maneira tão descontrolada dentro de si, que sem nem mesmo perceber já estava de frente à pensão dela. Sem saber como tinha chegado até lá, seus sentimentos guiaram seu corpo com uma rapidez e uma voracidade que ele nem havia percebido. Mas essa era a palavra. Voracidade. E mais outra: devorar. Sentia uma vontade anormal de Risoleta. Queria devorar cada pedacinho do corpo daquela mulher, sentir cada cheiro, cada gosto.

 

Era bem fácil para ele subir até a escada do quarto dela e invadir. Ou melhor, adentrar. Tempos atrás Risoleta lhe fizera o convite de que ele poderia visitar seu quarto. Não que criaturas como Aristóbulo necessitassem de uma aprovação para entrar no quarto de outras pessoas, ledo engano. Mas todo aquele relacionamento que tinha com ela o excitara demais. Mas aí começaram as brigas, e os desentendimentos. O amor deveria ser mais importante que tudo, porém a verdade é que não é assim, é? Rapidamente, já estava dentro do quarto dela. Ele observava Risoleta adormecida, com a sua camisola de seda preta, que deixava sua pele branca ainda mais bonita. Seu coração batia rápido no peito e ele não conseguia manter-se longe daquela mulher, precisava dela. O seu desejo falava cada vez mais alto. Aristóbulo aproximou-se, sentando-se à beira da cama. Pegou o braço de Risoleta que, num sono profundo, não sentiu sua presença ali. Ele cheirou toda a extensão do braço da mulher, inalando aquele perfume gostoso, aquele cheiro de fêmea que ela possuía e que ele tanto gostava. Sem pensar duas vezes, deslizou a língua pelo braço dela, beijando cada centímetro em seguida. Risoleta sentiu um arrepio subir à espinha. – Professor... – Ela sussurrou sonhando, pois de um jeito ou de outro, sabia que era ele. Simplesmente sabia. Seu corpo despertou curvando-se para frente, como que pedindo mais. A mulher abriu os olhos, mas antes que pudesse afastá-lo de si ou mesmo tentar fugir dos seus próprios desejos, ele foi para cima dela, beijando freneticamente o seu pescoço – Eu preciso de você, dona Risoleta – A mão dele subia pela coxa esquerda dela, apertando de desejo. Ele mordia levemente o pescoço da dona da pensão, seu ombro, e voltava a deslizar a língua por toda aquela extensão. Aristóbulo era louco pelo cheiro daquela mulher. Já Risoleta, não conseguia pensar mais. Era incrível como aquele homem mesmo a magoando da maneira como fazia ainda sim conseguia despertar todo seu amor e seu tesão. Ela se entregava completamente a ele por amor. Alguns suspiros abafados saiam da sua garganta a cada beijo dele, cada vez que sentia a sua língua. – Eu sou completamente louco pela senhora – Até a voz dele mexia com os instintos dela. A voz dele era simplesmente deliciosa aos ouvidos da mulher.

 

Entregava-se cada vez mais, sentindo Aristóbulo agora beijar a parte interna na sua coxa, causando-lhe arrepios. Não conseguira evitar amar e desejar aquele homem, desejar estar a todo o momento com ele. Num súbito, lembrou-se que naquela noite, não era ela quem estava com Aristóbulo na festa do Centro Cívico. Era Marcina. O desejo e o amor deu lugar a magoa por um momento e ela se afastou dele, lutando para tirar o homem que tanto amava de perto de si – Saí daqui, professor. Anda, fica longe de mim. O que o senhor tem em mente? Apresenta aquela mocinha lança-chamas para toda a sociedade Bolebolense, certamente vai para cama com ela e ainda tem coragem e disposição de vir me procurar como se eu fosse uma... – A fala de Risoleta desabou com sua voz. Ela era uma prostituta. Não mais agora, mas foi um dia. “Cada um tem sua sina, professor. Eu sou o que sou, o senhor é o que é”, eram aquelas palavras que ela mesma dissera que não saiam de sua cabeça. Levantou-se apressadamente da cama, tentando se afastar o mais rápido possível dele – A senhora está equivocada, dona Risoleta. Não sei se tem conhecimento de que a senhorita Marcina ainda não se tornou uma mulher, se é que a senhora me entende... – Parou por alguns instantes, e passou a olhá-la fixamente – Mas não serei eu quem irá fazer isso com ela. Eu nunca a toquei, nem irei tocar. Não posso me aproximar dela nem tampouco quero, pois eu não consigo resistir à senhora. Ela está dormindo num quarto de hóspedes na minha casa, jamais nenhuma mulher se deitará na minha cama, a não ser que seja a senhora. – Risoleta se surpreendeu com tudo aquilo que ele disse. Sabia que Aristóbulo jamais mentiria para ela, e interiormente, sentiu-se bem em ouvir tudo aquilo. Mas ainda sim, a mágoa permanecia. Era Marcina que estava na casa dele, era ela que ele apresentava a sociedade como sua futura primeira-dama. Mas era ela que ele vinha procurar quando sentia desejo. Que espécie de amor é esse? – Vai embora daqui, professor Aristóbulo. Eu não aguento mais ser destratada pelo senhor, eu não aguento mais! Não se aproxime de mim nunca mais e, por favor, esqueça que eu existo! Se ainda tem um mínimo de consideração por mim, então pare de me magoar, porque eu realmente não aguento mais! – Risoleta chorava. Quando ele tentou se aproximar como da última vez, ela o afastou. Como queria mesmo receber aquele abraço dele, aquele beijo. Mas do que iria adiantar, se todos aqueles toques estavam carregados de tristeza e mágoa? – Eu jamais me esquecerei da senhora. Eu a levarei comigo, dona Risoleta. – Aristóbulo saiu pela porta do quarto, com lágrimas nos olhos. Estava perdido, ainda mais desolado que antes. Risoleta não dormiu mais a noite toda. Odiava amá-lo e desejar cuidar dele daquela maneira, e a todo encontro que tinham acabar com ela, da mesma maneira: desolada e chorando. Não aguentava mais viver assim, e ele já havia feito a sua escolha.