Fanfic - Beauty and the Beast (Capítulo 06 - Uma estranha no ninho)

27/08/2013 18:04

 

Dona Pupu estava surpresa. Geralmente essas festas e eventos do partido se arrastavam pela madrugada, mas dessa vez o seu “neném” e a nova “esposa” estavam mais cedo do que ela esperara em casa. Marcina estava completamente sem jeito. Apesar de ser uma moça que literalmente ardia em chamas, encontrara-se bastantemente tímida naquela casa, onde tudo lhe parecia muito estranho. Para ela, a cabeça de Belisário era a coisa mais bizarra que já vira em toda a sua vida. E a casa? Parecia parada num filme de terror gótico do século passado. Dona Pupu não passava de uma velhinha, apesar de simpática, louca com seus gatos. Tudo deverasmente esquisito para uma garota que sempre conviveu num mundo “normal” – Vocês chegaram cedo, neném. Seja bem vinda à nossa casa, Marcina. – Dona Pupu, em toda sua delicadeza e simpatia de sempre, dessa vez se restringia a poucas palavras. – Mamãe, por favor, não me chame de “neném” na frente das visitas. – Por um momento Aristóbulo esqueceu-se de que Marcina passaria a morar com eles naquela casa. Sua mente estava pesada e seu coração a mil. Tinha visto a mulher que amava com os olhos ardentes em lágrimas, quando ele praticamente pediu outra em casamento. Ele estava desolado consigo mesmo, e do que estava se transformando a sua própria vida por conta de um sonho que já não fazia tanto sentido agora. – Neném, - a mãe insistiu – A senhorita Marcina já não é mais uma visita na nossa casa, ou já se esqueceu da decisão que tomou? – Pupu também estava muito chateada com aquela situação, especialmente por ver seu filho definhar daquela maneira, seu aspecto estava horrível. – O que houve com você, meu neném? Está pior do que quando saiu daqui. O que fizeram contigo? – Aristóbulo puxou a mãe num canto da sala de visitas, esquecendo-se da presença de Marcina. Seus olhos estavam inchados, de lágrimas – Ah mamãe, eu a vi. Ela estava na porta do Centro Cívico, ela me viu elevando Marcina ao nível de minha primeira-dama – O professor, ainda mais desolado por conseguir desabafar com alguém, encostou a cabeça no ombro da mãe e chorou baixo. Pupu sussurrou em seu ouvido – Meu filho, eu avisei a você, que não fizesse uma burrada dessas! Você realmente prefere perder a mulher que ama por conta de atitudes e coisas não tão importantes? – Aristóbulo levantou a cabeça – Mamãe, meus sonhos são importantes, o meu sonho de me tornar uma figura ilustre na história da nossa cidade sempre foi algo deveras importante para mim. A senhora sabe que me preparei para isso à vida toda e... – Pupu o cortou – Acho que deveria começar seu perneamento noturno o quanto antes, neném. Quem sabe sozinho, a sua cabeça entre no lugar? – Dona Pupu afastou-se, deixando-o pensar consigo mesmo e foi cuidar dos seus gatos. Aristóbulo virou para Marcina e disse – Vamos, senhorita Marcina. A senhorita deve estar cansada e vou lhe mostrar o seu quarto – Ele seguiu pela escada, esperando que logo a moça fizesse o mesmo.

 

O quarto lembrava bem o resumo da casa. Era escuro, com um toque sombrio. Aristóbulo fechou as cortinas e olhou para a menina, esboçando um sorriso suave – Espero que se sinta bem aqui, senhorita Marcina – Ela não sabia como prosseguir. Nunca tivera antes relação com nenhum outro homem e esperava que a sua primeira vez fosse acontecer com o homem que amava, João Gibão. Mas agora, praticamente noiva, tinha no pensamento que não havia como evitar aquilo com o professor – Professor Aristóbulo, eu nunca fiz isso antes, então não sei como lidar... – A fala dela era tímida e pausadamente, com medo, receio. Se pudesse, fugiria dele e daquele quarto correndo, sem olhar para trás. Porém, surpreendentemente, teve outra resposta de Aristóbulo – Isso o quê, senhorita Marcina? – Ele se assustou e ficou confuso por um momento, mas acabou por entender do que a menina se referia. Aproximou-se dela muito suavemente, beijando-lhe a testa, mais como um amigo, um pai, do que como um futuro noivo ou marido – Marcina, não se preocupe. Eu não pretendo ter nenhum tipo de relação íntima com a senhorita. Sabes que todo esse envolvimento é apenasmente para mantermos o perfil na frente dos eleitores, não sabe? Sei que sabe muito bem disso. Assim como sei quem a senhorita ama... – Naquele momento, ele se lembrava de Risoleta. A lembrança da voz dela, da maneira como ela lhe dirigia a palavra, o seu cheiro, o seu sorriso, tudo passava numa velocidade incrível pela sua cabeça – Realmente, desejo que a senhorita não se preocupe, por favor. Irá dormir nesse quarto, e eu continuarei no meu. Manteremos as aparências lá fora, mas aqui dentro, seremos bons amigos, apenas. Concorda com isso? – Aristóbulo sorriu. Queria amenizar o medo de Marcina, pois imaginava o quanto ela sofria com aquela situação, exatamente como ele. Amando uma pessoa, porém, não estando ao lado dela. – Tudo bem, professor. Eu fico realmente mais aliviada com tudo isso, muito obrigada. – Ele abaixou a cabeça, as lembranças da mulher que amava estavam piscando em sua mente – O amor é sagrado para mim, senhorita Marcina. E o matrimônio também era. Eu sacrifiquei o ideal de me casar com alguém que amo, mas certas coisas nós não podemos nos esquecer – Marcina estava surpresa com toda aquela situação, e agora ainda mais, pois talvez o professor Aristóbulo, figura misteriosa e até mesmo sombria, poderia ser apaixonado por alguém. Não aguentou de curiosidade – Professor, o senhor ama alguém? – Aristóbulo fugiu do assunto, desejando boa noite para a garota e saindo do quarto. Não aguentaria falar sobre aquilo, tocar no nome de Risoleta – Boa noite, Marcina. Vou começar o meu perneamento noturno compulsório, se precisar de algo, chame pela mamãe. Cuide-se.