Fanfic - Beauty and the Beast (Capítulo 15 - A tão esperada primeira reunião familiar)

13/09/2013 19:06

 

Risoleta estava linda. Além dos sapatos de salto que sempre usara, estava trajando um vestido verde escuro, bem cinturado, com as mangas caídas pelos ombros e um bolerinho preto bordado, para esconder o ferimento do lobisomem. Aquele vestido moldava e muito as suas curvas, e o decote também chamava a atenção de longe. Seus cabelos estavam presos como sempre usara, era quase como um charme dela. O professor Aristóbulo se surpreendeu ao ver que ela poderia ficar ainda mais bonita do que já a conhecia. Todos os olhavam na rua, andando juntos e conversando baixinho, cheios de segredância. Às vezes, paravam e se olhavam por alguns minutos, sorrindo um para o outro e continuavam a caminhar. O boato de que a ex-prostituta se envolvera com o professor-lobisomem já corria de boca-em-boca por toda Bole-Bole. Mas nenhum deles se importou e nem mesmo perceberam os olhares maldosos que lhes eram lançados. Estavam muito mais interessados na presença um do outro, e no jantar “em família” que teriam daqui a alguns instantes. 
 
Rapidamente chegaram ao sobrado dos Camargo, e Dona Pupu ficou completamente encantada com a presença de Risoleta ao lado de Aristóbulo daquela maneira tão apaixonada – Seja bem vinda, minha querida! Ah, é tão bom ver que você e o neném finalmente se acertaram! Vou chamar Belisário, ele vai adorar ver como você está bonita! – Risoleta sorriu e olhou para Aristóbulo, que não escondia a felicidade em estar com ela, ali, ao lado de sua família. Ao lado dela, era como se todo seu sofrimento, sua maldição e seus medos fossem apagados de sua memória. Sentaram-se à mesa, Dona Pupu e seu Belisário em um lado, e Aristóbulo e Risoleta do outro. Riram e conversaram a noite toda, e Risoleta esclareceu Dona Pupu a respeito de sua filha. A todo o momento, tivera o olhar dele zelando por ela, como na vez que ele o professor zelou seu sono, no consultório do Dr. Rochinha. Logo mais, todos os gatos da família estavam na sala, acompanhando de perto o “novo casal”. Risoleta se espantara por alguns instantes, mas logo se esqueceu, afinal, ela amava cada “anormalidade” daquela família. Risoleta despediu-se de Pupu e Belisário, que iam dormir. Já estava tarde, mas tudo que ambos mais desejavam era estarem próximos um do outro. 
 
Foram para o final do jardim, que ficara atrás da casa. De longe, poderia ser ouvida a música alta que Dona Pupu havia deixado para embalar a noite do casal. Elegante e cavalheiro, Aristóbulo estendeu a mão à Risoleta – A senhora me daria à honra de dançar comigo, dona Risoleta? – Ela estava encantada. A noite deles não poderia ser melhor. Sorriu boba para Aristóbulo, da mesma maneira quando ele se declarou amando-a, e respondeu – Eu sempre sonhei em dançar com um lobisomem! – Risoleta riu, e o professor passou o braço delicadamente pela cintura dela, segurando sua outra mão. A luz de uma linda e enorme Lua Cheia os iluminava. E felizmente, não era noite de quinta para sexta-feira – Imagine o senhor, a prostituta e o lobisomem? Será que isso daria um conto de fadas, professor? – Risoleta olhou para ele, seus olhos amendoados chegavam a encontrar a sua alma perdida na solidão – Não sei lhe responder, dona Risoleta. Eu apenas peço que a senhora me ame, antes que a última pétala da rosa caia – O professor riu, e Risoleta deu uma gargalhada, acompanhando-o. Achou engraçada e interessante a comparação que ele fizera com “A Bela e a Fera”. E, de fato, eles se espelhavam muito nesse casal de contos de fadas, como ela o perguntou. De repente, percebeu que nenhum tipo de rótulo mais importava para nenhum dos dois. Risoleta encostou a cabeça no peito dele, e Aristóbulo beijou seus cabelos, aspirando o doce perfume que vinha deles, e suspirou. A maneira como ela estava ali, tão perto dele, o acalmava. Ele poderia protegê-la até de si mesmo se fosse necessário – Quero que durma aqui essa noite, dona Risoleta – A dona da pensão se assustou e voltou a encará-lo – Mas professor, o senhor tem certeza? Dona Pupu e seu Belisário não ficarão constrangidos? Não seria melhor passarmos a noite no meu quarto, na pensão? – Aristóbulo apenas a olhava, com aqueles olhos que tanto a fascinava – Tenho certeza de que eles vão adorar vê-la aqui pela manhã. 
 
Subiram rapidamente as escadas que davam ao quarto do professor. Já pelos corredores, começaram a se beijar com paixão. Aristóbulo fechou a porta do quarto e caminhou até Risoleta, que estava de costas para ele, a admirar e finalmente conhecer o quarto do seu amado. Ele a segurou pela cintura, passando os lábios pelo pescoço dela – Eu sempre imaginei tê-la na minha cama um dia, dona Risoleta – A dona da pensão suspirava. Virou-se rapidamente e envolveu seus braços no pescoço dele, sussurrando bem próximo aos lábios de Aristóbulo – Não fala mais nada, professor. Apenas me beije, me beije como se nunca tivesse me beijado antes! – Ela sorriu, e o professor a segurou com mais força pela cintura, envolvendo seus lábios e suas línguas o mais intensamente que conseguia. Os lábios macios dela, a língua quente, tudo aquilo o deixava louco. Puxava suavemente o cabelo de Risoleta, descendo os beijos para seu queixo, seu pescoço. Empurrou-a na cama, mas não sem antes lhe retirar o bolero preto e atirá-lo ao chão. Logo em seguida passou a beijar seu colo, lambendo-o. Voltou a beijar seus lábios com paixão, enquanto carinhosamente Risoleta segurava seu rosto. Passou a mordê-la delicadamente como outrora, e também seguindo os mesmos lugares de antes: o queixo, o pescoço, até chegar ao colo dela. Beijava aquela região deixando marcas avermelhadas na pele pálida que ela possuía, abrindo espaço com pressa por entre o decote dela. Por um instante parou, olhando o machucado, que ainda estava coberto – Dona Risoleta, deixe-me ver o que fiz à senhora, por favor – Aristóbulo falava entre pausas para recuperar o fôlego. Tocou suavemente o ferimento dela, preocupado e temeroso pelo futuro. Ela colocou a mão em cima da mão dele, que pousava sobre o tal machucado feito pelo lobisomem, mas não queria pensar nisso agora. Naquele momento, ela o queria. Desejava prosseguir com as preliminares que tanto adorava ter com ele, e finalmente senti-lo profundamente dentro de si. Queria esquecer qualquer tipo de problema agora. Aproximou-se dele e sussurrou no seu ouvindo, beijando-o a cada palavra – Não pense nisso agora, professor Aristóbulo. Como o senhor mesmo me disse tempos atrás, já perdemos muito tempo com “acautelatórios” desnecessários – Ela riu, segurando-o pela nuca e beijando o seu pescoço. Mas Aristóbulo segurou seu rosto, fazendo-a perceber que ele precisava mesmo ver aquilo – Por favor, dona Risoleta. Eu preciso saber o que fiz com a senhora - Aborrecida, Risoleta concordou. Com muito cuidado, Risoleta começou a abrir o curativo do ferimento. Aristóbulo olhava ansioso. Durante todos os dias desde o ocorrido, o Dr. Rochinha sempre lhe fizera os curativos e Risoleta passara a tomar regularmente o antibiótico que ele lhe receitara para qualquer possível infecção. O doutor lhe dissera que certamente não ficariam marcas posteriores, porém talvez ele estivesse enganado. Era evidente que o ferimento estava limpo e bem tratado, porem havia deixado uma boa marca no colo de Risoleta, possivelmente uma cicatriz desse dia que, no fundo, lhe fora tão especial. Aristóbulo se assustou. O professor deslizou os dedos cuidadosamente pela cicatriz que havia ficado por conta das suas garras de lobisomem, e seus olhos se encheram de lágrimas. Ver que machucou daquela maneira a mulher que amava lhe magoara muito, e pior, lhe abrira espaço para pensar no futuro. E se seu ciclo “lobisomesco” desregulasse novamente? Ou mesmo numa noite de quinta para sexta-feira, por algum motivo, ele a machucasse ainda mais? Ou pior... E se Risoleta tivesse o mesmo fim que Adélia, sua ex-noiva? Aristóbulo subitamente afastou-se de Risoleta. A dona da pensão foi até o professor que estava de costas para ela, o abraçando com carinho – Por favor, professor, não se afaste de mim por conta do que aconteceu, por favor! O senhor mesmo disse que foi um acontecimento à parte, que não se repetiria mais! – Aristóbulo virou-se rapidamente, com os olhos inchados de lágrimas – Mas e se acontecer novamente, dona Risoleta? E se acontecer novamente? Veja isso, sinta... – O professor pegou Risoleta pela cintura e levantou-a da cama, fazendo-a olhar para um grande espelho que estava na frente deles, e enquanto a segurava por trás, tocava no ferimento que fizera à sua amada – Veja, dona Risoleta, eu a machuquei profundamente, e foi apenasmente uma vez. E se acontecer novamente? E se for pior? – Risoleta se virava de frente a ele, tocando seu rosto com as mãos macias e carinhosas – Mas não vai acontecer, professor! E se acontecer, nós saberemos lidar com isso! Por favor, professor Aristóbulo, muitas coisas já nos separaram... Não deixe que isso também nos separe agora, por favor! – Ela beijava-o com carinho, e ele sem conseguir evitar, correspondia com paixão e doçura aos lábios dela. Mas Aristóbulo estava desesperado. Demorara tantos anos para finalmente encontrar aquela mulher que despertara seu coração e sua alma para a vida, não suportaria perde-la por conta da sua maldição, da sua triste e solitária natureza – Só eu sei a dor que sinto em pensar que a minha maldita natureza pode nos separar, dona Risoleta. Mas eu não quero arriscar a vida da senhora novamente. Eu não suportaria perdê-la, por favor, me perdoe... – Aristóbulo abaixou a cabeça, não tinha coragem de olhar para ela. Desejara tanto que aquele dia fosse perfeito, cheio de alegria, amor e principalmente luxúria, mas infelizmente percebera que a sua natureza não lhe permitia isso. Era doloroso demais, mas o professor preferiria ter a mulher que amava longe, mas viva, do que tê-la por alguns momentos da sua vida e carregar para sempre a culpa de que tirou a vida da mulher que amava. Mais uma culpa como essa Aristóbulo não suportaria. – Dona Risoleta, acho melhor a senhora ir para sua pensão agora. Compreenda, por favor, que eu não suportaria a ideia de perder a senhora novamente – Risoleta estava irritada. Extremamente brava com Aristóbulo, e especialmente com todas as malditas condições que os afastavam. Perguntava-se se algum dia teria paz para viver esse amor ao lado dele. Ela preferira correr o risco, mas estar ao lado do professor. Sabia que havia escolhido correr o risco desde que trocaram olhares pela primeira vez, no velório do seu Cazuza que desmorreu logo depois. Mas nada disso Aristóbulo deixava Risoleta lhe explicar – O senhor já está me perdendo, professor. E como bem colocou, me perdendo novamente – Aristóbulo ficou enfurecido. Aproximou-se de Risoleta e a segurou pelos braços, olhando fixamente para ela com aqueles lindos olhos azuis nos quais ela tanto amava – Dona Risoleta, eu não quero que a senhora tenha o mesmo fim que Adélia, minha ex-noiva! Eu matei Adélia! Eu a matei! Demorei tantos anos para encontrar a senhora e deixar que despertasse o meu coração, e não vou correr o risco de perdê-la por conta dessa minha natureza maldita! Não podemos ficar juntos, dona Risoleta. Eu não conseguiria viver com a culpa de ter matado a mulher que amo, mais uma vez – O professor falava alto, e as lágrimas dele caiam por sobre os braços de Risoleta. Ela estava sem palavras, confusa, com medo. Gostaria de tentar lhe explicar que o amava, que desejava estar com ele mesmo assim. Mas também se lembrara de Stela, e do desejo de acompanhar o crescimento da filha, mesmo de longe. Risoleta estava atordoada. A dona da pensão saiu de cabeça baixa, para esconder as lágrimas que teimavam em invadir seus olhos e cair pelo seu rosto. Exatamente como ela, encontrara-se o professor Aristóbulo Camargo. Naquele momento, se pudesse, ele se mataria. Odiava o fato da sua maldita condição, da sua maldita natureza o afastar da mulher que amava e desejava. Olhava-se no espelho que outrora olhava Risoleta e seu ferimento e não se reconhecia. Apenasmente via a fera que havia dentro dele, e que o condenara a uma vida de dor e solidão. Pegou o abajur ao lado da cama e jogou-o com extrema força contra o espelho. Os cacos de vidros, picados, caiam ao tapete do quarto como flocos de neve dilacerantes. Tão dilacerantes quanto a alma dele naquele momento estava. Risoleta, já na porta para sair, olhou uma vez para o quarto dele ao ouvir o barulho do espelho se quebrando. Com as lágrimas escorrendo pelo rosto, saiu do sobrado da família Camargo sem olhar para trás. 
 
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